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Aguinaldo Cabral
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Ó Tempora! Ó Mores!

Ainda com a onda de pai e mãe de pets, agora temos o fenômeno do Bebê Reborn, o que suscitou-me alguns questionamentos: seria ele uma confusão entre realidade e ilusão, motivada por fatores psicológicos, como a negação de perdas, sociológicos, como o consumismo afetivo, ou até teológicos, como uma forma de idolatria? Independentemente da resposta, mesmo que essas bonecas hiper-realistas desempenhem um papel terapêutico para alguns, esquecer sua natureza artificial é um risco. Tal esquecimento pode distorcer a percepção da realidade, desequilibrar relações sociais e, em última instância, desencadear crises existenciais ou espirituais.

 

O cerne da questão não reside na existência do Bebê Reborn em si, mas no que ele revela sobre o coração humano: um anseio profundo por vida, afeto e propósito. Contudo, esse desejo, quando mal direcionado, pode levar à substituição do autêntico pelo meramente confortável. Em outras palavras, tratar um objeto de vinil ou silicone como uma criança viva pode ser menos um reflexo da boneca e mais um espelho das carências de quem a possui.

 

Vivemos em uma era que frequentemente privilegia o “parecer” acima do “ser” - "sociedades líquidas", diria Bauman¹. Nesse contexto, o Bebê Reborn emerge como um sintoma de uma subversão preocupante: a ilusão é abraçada em nome do conforto emocional, enquanto a realidade — e o valor intrínseco da vida humana — é relegada a segundo plano. Tal fenômeno desafia a racionalidade esperada na vida adulta, ainda que a psicologia possa identificar as raízes emocionais desse comportamento.

Que tempos complexos! Que costumes inquietantes! Cabe a nós questionar: até que ponto a busca por um falso consolo justifica a negação do real?

 

Maranata!


¹ O sociólogo Zygmunt Bauman trata sobre o conceito de sociedades líquidas em seu livro "Modernidade Líquida"

Aguinaldo Cabral
Enviado por Aguinaldo Cabral em 24/05/2025
Alterado em 24/05/2025
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